Luanda acordou com um sol radioso, como era hábito na época das chuvas. Depois de algum atraso na partida, a coluna militar lá se pôs a caminho rumo a Nambuangongo e Quixico. Depois de passarmos Quicabo, por volta do meio-dia, continuámos a nossa viagem comodamente sentados em cima da nossa bagagem. Aquelas cinco centenas de homens, a maioria deles jovens que ainda pouco tempo antes tinham deixado a puberdade, olhavam um cenário para eles desconhecido e que me trazia à memória o meu Alentejo, a picada de terra batida e o capim substituindo a searas ondulantes naquela planície que antecedia Balacende.
Uma e meia de tarde, sol abrazador e, repentinamente, uma rajada, tudo se atirou para o valeta da picada. Os meus ajudantes, os cabos enfermeiros Zé João, Rui Passos e Abel Alves na precipitação de encontrar um refúgio, nem se lembraram da bolsa de primeiros socorros. No entanto, tivemos a preocupação de ficarmos todos juntos.
Silvavam a balas por cima das nossas cabeças, quando olho para baixo duma das viaturas e vejo uma cena inesperada, um alvo trazeiro de homem evacuando. O alvo trazeiro era do Sargento Machado. O seu sistema nervoso atraiçoou-o naquele instante.
Estávamos naquela de tiro para cá, rajada para lá, quando o, então, furriel Vences Castelo chegou perto de nós gritando por maqueiro, maqueiro! O malogrado Zé João, virando-se para ele disse, muito calmamente, -eu não sou maqueiro, sou enfermeiro, e voltou a procurar a protecção da vala.
Escusado será dizer que me senti na obrigação de subir à nossa viatura, debaixo dos silvos das balas, e procurar a preciosa bolsa de primeiros socorros.
O resto da história deste dia já todos nós conhecemos.
Aquartelamento de Balacende
Picada de Quicabo-Balacende